sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Lá em casa

O apartamento da minha mãe, mesmo a algumas centenas de quilômetros, ainda é "lá em casa". Lá onde o almoço sempre tem farofa. Lá onde os quadros que já passaram por tantas paredes são tão familiares. Lá onde as estantes têm livros meus, discos meus - e alguns que nem sei mais se são meus ou dela. Lá onde passam vendendo pamonha, onde os vizinhos da casa da frente botam cadeiras na calçada e mudam de lugar quando muda o lugar da sombra. Lá onde se ouve Elis, sempre, e sempre os debates da rádio universitária, onde o telefone cai na secretária porque ninguém atende, onde o tanque do carro nunca está na reserva. Lá onde a gente, instintivamente, toma cuidado ao sair do sofá, pra não pisar no rabo do Toy - que ele rosnava quando acontecia isso... E uma das únicas coisas que me deixou triste na última temporada em Fortaleza foi quando o porteiro perguntou: "para que apartamento a senhora vai?".

O lugar onde a gente dorme todos os dias, onde chegam as contas e os extratos bancários, onde estão guardadas as roupas que a gente usa diariamente e as compras do último supermercado nem sempre é "lá em casa". Já morei em três lugares no Rio. Os dois primeiros eram "o apartamento que aluguei", ou "o apartamento da Canning" ou, no máximo, "meu apartamento".

O terceiro me chegou com um janelão e palmeiras. Veio o sofá-cama de São Paulo. A mesa de azulejos garimpada na loja de usados. A geladeira que pode ser riscada. As divisões de contas, os planos para a decoração, o carinho e a cumplicidade nos fins dos dias com a amiga que está no quarto ao lado. A outra amiga que quase morou, quarenta dias. O manjericão que ela deixou. A Maria Bonomi na parede. As prósperas que pousaram no carnaval, a vizinha cearense do sorriso bonito, a receita cearense de feijão, a visita dos amigos. O porteiro de Sobral, o síndico-senhorio-rabugento com sotaque italiano. O quadro de fotos, os livros novos, as músicas em mp3. O grafite melancólico no quarteirão da frente, pintado dia desses. O Mar de Luz, o Mucuripe e a saudade à mostra na mesa de centro.

Agora lá em casa é aqui também.

5 comentários:

Anônimo disse...

pois eu quero ir "lá em casa"!!!!
ah! se meu dinheiro desse.....
amo você.

Anônimo disse...

é tão difícil estabelecer um "lá em casa", né... a saudade parece não deixar...

Anônimo disse...

como assim "quase" morou? hahahaha
me sinto em casa no Rio, gata, especificamente na Paissandú! parece até q as palmeiras imperiais foram plantadas para mim!
e cuida do manjericão!!!
rs

margot disse...

Ei, que lindo esse layout novo!

Caiê disse...

doug e mari, apareçam "lá em casa"... helena, volta pra casa!
;-)
eu também adoooooorei as marias lá em cima...